
A pessoa que consegue ver
o jogo, o colega cientista Rajesh Rao, está sentado do outro lado do
campus olhando para uma tela. Ele usa uma touca com cabos acoplados. Sem
mover um músculo ou usar qualquer equipamento de comunicação, Rao diz a
seu colega o exato momento de disparar o canhão.
Para isso, Rao
usou apenas o poder da mente. No momento exato, ele apenas imaginou
disparar o canhão. A ordem foi então enviada por meio da internet a
Stocco, que usando uma touca de natação e fones de ouvido especiais que
impedem a passagem de qualquer som, apertou involuntariamente a tecla de
espaço com o dedo indicador.
Voldemort
A cena narrada acima pode ser o primeiro caso documentado de "controle da mente" à distância entre dois humanos. Até agora, tratava-se de um conceito apenas teórico, mais próximo à ficção científica. Os fãs de Harry Potter vão fazer relações com o malvado Voldemort e seu feitiço "Impérius", quando manipula a mente de terceiros.
A cena narrada acima pode ser o primeiro caso documentado de "controle da mente" à distância entre dois humanos. Até agora, tratava-se de um conceito apenas teórico, mais próximo à ficção científica. Os fãs de Harry Potter vão fazer relações com o malvado Voldemort e seu feitiço "Impérius", quando manipula a mente de terceiros.
Stocco diz que a
internet, além de conectar computadores em rede, "agora pode ser a
forma de conectar cérebros". Rao diz que foi "empolgante" ver uma ação
imaginada no seu cérebro sendo transformada em ação por outra mente. "O
próximo passo é chegar a uma conversa bilateral entre os dois cérebros".
Atividade cerebral
Já
existem hoje vários programas para controlar o computador por impulsos
cerebrais. A Samsung, por exemplo, está desenvolvendo um tablet
controlado pela mente. Já a empresa Interaxon está comercializando uma
"bandana com sensor cerebral" que tem como objetivo controlar
equipamentos com o poder da mente. A tecnologia foi desenvolvida
pensando em pessoas com deficiências.
A tecnologia usada no
experimento é em parte conhecida. A técnica usada para enviar as
mensagens cerebrais de Rao para Stocco é chamada de eletroencefalografia
e já é utilizada para medir a atividade cerebral das pessoas. O
estímulo magnético que fez o dedo de Stocco se mover também é conhecido.
A novidade é que ninguém havia juntado as duas técnicas anteriormente.
'Trivial'
Os
pesquisadores dizem saber que o experimento é "básico" em termos de
conceito. Para Daniel H. Wilson, PhD em robótica e autor do elogiado
livro de ficção científicaRobocalypse, o experimento dos dois cientistas foi uma "prova de conceito".
"Ele
lançou uma discussão sobre como o contato entre cérebros pode ter
impacto na sociedade no futuro", diz. "Ainda que o experimento seja
limitado, ele certamente nos fará pensar a respeito", disse.
Um sistema de controle de reconhecimento do pensamento é trivial
Ian
Pearson, futurologista com experiência em engenharia, compara o
experimento à performance do artista australiano Sterlac, que há 15 anos
deixou que o público controlasse o movimento de seus membros a partir
de estímulos enviados pela internet.
"Um sistema de controle de
reconhecimento do pensamento é trivial", disse. "Se eles tivessem tirado
o pensamento de uma pessoa e recriado esse pensamento em outra, aí eu
estaria impressionado", disse.
Perigo
Entre
os cientistas, há um consenso maior sobre o impacto que
desenvolvimentos futuros nessa área de pesquisa possam ter na forma como
as pessoas se comunicam e cooperam entre si.
Stocco diz que um
dia essa tecnologia poderá permitir, por exemplo, que um passageiro
assuma o controle de um avião caso o piloto fique incapacitado com ajuda
de outro piloto ou especialista sentado em outro lugar.
Pearson cita como exemplo a elaboração de projetos complexos que necessitam do envolvimento de profissionais de diversas áreas.
"Digamos
que você esteja projetando um prédio com engenheiros, arquitetos e
artistas". "Mesmo estando a quilômetros de distância, o artista pode
apresentar uma ideia e o engenheiro pode refiná-la ou contestá-la.
Trabalhando juntos, eles podem desenvolver algo complexo, bem rápido".
Ele
acha que "em 30 ou 40 anos" esse cenário pode se tornar realidade, com a
utilização de nanotecnologia inserida diretamente no cérebro.
É
claro que todo o conceito de controle mental acaba sendo ofuscado pela
possibilidade de mau uso da tecnologia. Daniel H. Wilson, entretanto,
diz não ver "nada inerentemente perigoso no crescimento da comunicação
entre seres humanos".
"Os intrincados requisitos técnicos do
estímulo magnético transcraniano fazem com que seja improvável o
controle da mente sem que saiba", diz.
Chantal Prat, professor
assistente de psicologia na Universidade de Washington, trabalhou na
pesquisa e concorda com essa análise.
"Acho que algumas pessoas se preocupam porque estão superestimando a tecnologia", diz.
BBC Brasil
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