A violência invadiu o ambiente escolar na Paraíba. A situação é admitida pelos pais, alunos, professores e também pela Secretaria da Segurança e da Defesa Social. Enquanto diretores denunciam a presença de traficantes nos arredores das escolas, os pais tentam manter os filhos longe das más companhias. É isso que acontece, por exemplo, na Escola Municipal Violeta Formiga, no bairro de Mandacaru, na capital.
A violência nas escolas é a terceira reportagem da série Educação em Pauta, produzida pelo JORNAL DA PARAÍBA e pelos demais veículos da Rede Paraíba de Comunicação.
Duas facções – Okaida e Estados Unidos – dividem Mandacaru, e consequentemente as escolas localizadas no bairro. A violência que existe nas ruas acaba invadindo o ambiente escolar, segundo informou a diretora Elizabeth Brasileiro. Ela contou que há casos de alunos que abandonaram as aulas porque estavam ameaçados. Ameaça que implica em riscos para todos que estão na escola, de acordo com a diretora.
“Ainda bem que os meninos nos respeitam”, disse.
Nas paredes e portas da escola é possível encontrar pichações que comprovam a existência de membros das facções. “Alguns nem sabem o que significa”, declarou a diretora-adjunta Sônia Dantas. Segundo ela, recentemente uma adolescente foi afastada da escola após receber ameaça do ex-namorado, que prometeu matá-la por não aceitar o fim do relacionamento.
Outro caso destacado por ela foi de um garoto que dizia pertencer à facção Okaida e foi ameaçado de morte porque a escola Violeta Formiga fica na área dominada pelos inimigos.
Depois do último arrombamento, em fevereiro deste ano, a escola ganhou 15 câmeras de monitoramento, mas três delas já foram quebradas, segundo informou a diretora. “Não são os alunos que quebram, são pessoas da comunidade”, frisou. No ano passado, três homens invadiram a instituição e fizeram um ‘arrastão’.
Um professor que não quis se identificar disse que tem medo da sala de aula. “Se você me perguntar se a escola mudou eu vou dizer que sim, mudou muito. Há 10, 15 anos, os alunos respeitavam o professor, que era a maior autoridade na sala de aula. Hoje é muito diferente, tem aluno que ameaça mesmo, basta tirar uma nota baixa na prova. Eu prefiro recuar, tenho família também”, revelou o professor.
O estudante Tiago dos Santos, 13, disse que todos os dias ouve um sermão da mãe antes de ir para a escola. “Ela diz para eu não me envolver com pessoas erradas, que se eu fizer isso vou me arrepender”, disse o garoto. Apesar do cuidado dos pais, os alunos parecem se sentir seguros na Escola Violeta Formiga, onde é comum observar a presença de jovens nos momentos de entrada e saída de alunos, o que preocupa a direção.
A violência atinge outras escolas da capital. Em março deste ano, um dos vigilantes do Lyceu Paraibano foi morto a tiros dentro da escola, o que provocou pânico entre alunos e professores que estavam em sala de aula no momento do crime. Depois do homicídio, a escola recebeu câmeras de vigilância para coibir outros casos de violência.
SECRETÁRIO RECONHECE PROBLEMA
O secretário de Segurança e Defesa Social, Cláudio Lima, reconhece o problema. “Temos algumas escolas onde foram registradas ocorrências que inspiram cuidados, mas não são todas as escolas, é bom lembrar isso. Nem todas são problemáticas”, declarou. O secretário disse que desde o início do ano vem tentando, junto às secretarias de Educação, identificar os locais onde há mais necessidade. “Tivemos um investimento em tecnologia, com a instalação de câmeras nas escolas”, afirmou.
Segundo o secretário, é preciso se construir uma política que possa acompanhar melhor as escolas. “Os problemas da escola são vários, o problema da polícia é o último. O carro-chefe não é a segurança, são outros problemas. Temos que admitir que mudamos os costumes e o avanço social acabou interferindo no ambiente escolar”, frisou Lima. Ele disse que são feitas reuniões com representantes das secretarias estadual e municipais de Educação.
O secretário também reconheceu a atuação de traficantes nas proximidades das escolas, sobretudo as que estão localizadas em bairros com alto índice de criminalidade. “A gente toma conhecimento e busca atuar e identificar onde está o problema.
O tráfico de drogas, infelizmente, é uma situação grave que todo o país enfrenta”, afirmou. “Temos que construir uma política que priorize programas de prevenção e que tenha os alunos como público-alvo”, ressaltou. Segundo o secretário, a Polícia Militar tem atuado no apoio às escolas através do programa Proerd.
Com Paraíba Hoje
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